Sobre recomeços e afins

Recria tua vida, sempre, sempre.

Remove pedras e planta roseiras e faz doces.

Recomeça.

Queria começar assim este 2019. Com algo inspirador como o palavreado de Cora Coralina. Confesso que não é fácil diante das circunstâncias atuais a que todos nós, independentemente da idade, estamos submetidos.

Mas o universo também pode conspirar a favor e, de vez em quando, recebemos de braços abertos aqueles pequenos sinais que nos enchem de esperança…

Coisinhas miúdas, que passam despercebidas diante da avalanche de afazeres na volta à rotina.

Faz dias que tenho pensado num tema para abrir essa Casa neste novo ano. Muitos assuntos vêm à cabeça, é claro. Aliás, tenho levantado de madrugada para anotar os pensamentos porque de manhã eles se foram.

Graças a Deus os pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro comprovaram que a Irisina, o hormônio do exercício, realmente protege contra o Alzheimer. Mas porque eu estava falando disso mesmo?

Brincadeira à parte, esse é um assunto extremamente importante. Embora eu tenha deixado para depois, vale sim uma apuração mais precisa.

Outra notícia inspiradora é a abertura das inscrições para as oficinas da Universidade Aberta da Terceira Idade da Universidade de São Paulo. Todo semestre tem um monte de curso bacana por lá. Já viram?

Novidade ainda é o começo da minha colaboração para Dominique.  Um projeto bárbaro para mulheres de 50 plenas e inspiradoras, que mostram na prática o poder da maturidade.

No fim das contas, e além das preocupações corriqueiras, temos aí um ano inteirinho para dividir as nossas angústias, debater novidades e buscar as soluções. Mas o tempo corre tão rápido, não é mesmo! Quando menos se espera, cá estamos pensando no recesso de final de ano outra vez.

E não é que já se passaram 365 dias do meu recomeço como cuidadora de pais e da minha mudança, de volta para a Casa de Mãe, o embrião desse canal…

Muita coisa rolou, mas estar aqui dividindo tudo com vocês é uma das melhores partes. Me ajuda muito a superar as dificuldades. Por isso, nada como um pequeno balanço das coisas que ficaram para trás e das coisas que gostaria de priorizar na lista de ano novo.

Depois de abandonar a minha vida em São Paulo, que sempre foi meu porto seguro, tive de aprender a deixar pra trás a cobrança em ser perfeita em todas as  áreas. Não se pode ter tudo. Não numa única existência!

Acho que o lance é rir mais de si e levar as mudanças com mais leveza. Na boa, aflições vão e vêm.

A vida não pode ser traçada numa planilha e as resoluções consideradas metas que precisam ser batidas.  É preciso reconhecer que a gente é o que é: seres imperfeitos, que mudam sim de opinião. Sem carregar culpa.

Às vezes a gente se transforma aos pouquinhos. Devagar mesmo! E sou dessas que gosta de comemorar cada pequena mudança, cada pequena conquista. Afinal, creio que viemos a este mundo para evoluir.

É por isso que não vejo problemas em repetir algumas resoluções todo ano. Sou brasileira e não desisto nunca! No final todo mundo quer é a mesma coisa: ser feliz…

Então veja minha listinha, seus níveis de dificuldades e inspire-se. E não se cobre tanto! Se não der pra fazer tudo logo logo 2020 pinta por aí!  Com um monte de novos desafios para fazer a gente crescer mais um tantinho.

1.     Perder peso. SEMPRE

2.     Comer, beber ou aprender algo novo. FÁCIL

3.     Guardar dinheiro. NUNCA SAI DA LISTA

4.    Ser feliz mesmo sem guardar dinheiro MUITO POSSÍVEL

5.     Definir uma meta atlética acessível como uma meia-maratona internacional ou aprender a nadar no mar. DESAFIADOR

6.    Apaixonar-me. DIFÍCIL, MAS NÃO IMPOSSÍVEL

7.     Ler mais. FÁCIL

8.    Beber menos. MUITO DIFÍCIL

9.    Ter mais paciência com as pessoas, principalmente com meus pais. SERÁ QUE UM DIA CONSIGO?

10. E, finalmente, não se levar muito a sério e recomeçar ( E RECOMEÇAR) quantas vezes forem necessárias!!!!

Cuidar de idoso pode se tornar carga pesada demais

O cuidador familiar costuma abrir mão de sua qualidade de vida para atender às necessidades do outro. Fórmula certa para gerar estresse intenso, exaustão e até problemas de saúde mais graves. Se, como eu, precisa lidar com essa rotina e se sente despreparado, esse texto é para você!

Antes havia muito mais filhos e a expectativa de vida era bem menor, mesmo assim, geralmente, sempre sobrava para um só cuidar dos idosos da família. Tenho exemplo dentro desta Casa.

Com 12 irmãos, os cuidados diários da minha avó Isabel ficaram por conta da tia Isaura. Vovó morou com ela até seus últimos dias porque as mulheres eram preferidas, visto estarem mais comprometidas com os afazeres domésticos e não terem a obrigação de prover a família para atendimento de despesas.

Com as mudanças sociais decorrentes do aumento da força de trabalho feminina, assim como a queda da natalidade e o aumento da longevidade, houve menor disponibilidade de jovens dispostos a adiar projetos pessoais e a postergar objetivos profissionais para atender às exigências da situação.  Quem explica o cenário é a pesquisadora Maria Luisa Trindade Bestetti, professora do curso de Gerontologia da Universidade de São Paulo.

Outro exemplo que pode ser ilustrado pela Casa: embora tenha convivido com 12 irmãos, meu pai me criou sozinha.  E – como filha única – não sinto que venha desempenhando bem o meu papel de cuidadora.

Mas faço o que posso. Mudei-me para o interior e estou perto deles.  Algo só possível graças à tecnologia. A internet me permite trabalhar em home office e controlar pai e mãe por celular no dia a dia.

Mas mesmo tendo irmãos, tenho algumas amigas que enfrentam as mesmas dificuldades que eu porque os “meninos” moram no exterior ou não tiveram como se adaptar a essa nova realidade por motivos vários como financeiros ou profissionais. Dados do National Center on Caregiving (Centro Nacional de Cuidadores) mostram que em 66% dos casos ainda são as mulheres que assumem esse papel.

Há ainda outro ponto que é o custo imobiliário que condiciona a gente a viver em espaços cada vez menores e leva muitos a optarem pelos residenciais para idosos, os novos e melhorados asilos. Não que isso seja ruim, embora ainda muito criticado. Leia também “Moradia compartilhada melhora qualidade de vida”.

Lembro-me de que um dos atritos de quando me mudei para cá nesse começo de ano foi exatamente esse: apesar de certas dificuldades, meus pais precisam ter privacidade dentro de um cantinho só deles.

Claro que há quem questione as razões para essa decisão.  Mas é preciso refletir se todos estão preparados para cuidar dos pais,porque a corrida por sobrevivência torna o tempo escasso.  

Talvez o motivo mais significativo seja a falta de informação sobre as características da velhice, a ponto de deixar esses cuidadores acovardados diante da perspectiva da dependência, conforme escreve Silvia Helena Americano, no Portal do Envelhecimento*. Ela diz: “Ao envelhecer nos tornamos singulares. É natural da família diante da fragilidade tentar impor necessidades que não são dos nossos pais”.

De fato, ouve-se que os conflitos intergeracionais surgem principalmente quando os hábitos são diferentes, fato recorrente no ambiente doméstico onde o compartilhamento de espaços comuns acaba por provocar a busca pelo consenso, nem sempre fácil de encontrar.Se houver diálogo, pode ser assimilado sem cobranças, mas a certeza de procurar a melhor solução pode comprometer as decisões coletivas”, afirma Maria Luisa, em artigo ao Portal Plena*, parceiro do Casa de Mãe Blog.

O que ela nos mostra é que é preciso entender o tempo do outro e relevar as mágoas para ser capaz de cuidar. Mas por mais que a tarefa seja assumida de bom grado, há muito estresse em cuidar de uma pessoa querida dependente.

É uma carga pesada, que frequentemente leva o cuidador a abrir mão de sua qualidade de vida para atender às necessidades do outro. Fórmula certa para gerar não só estresse intenso, mas exaustão e até problemas de saúde.

Pesquisando sobre o assunto encontrei um excelente material no HuffPost* e tomei a liberdade de compartilhá-lo aqui com alguma edição e os devidos créditos. Assim, destaco alguns pontos que podem ajudar quem, como eu, tem de lidar com essa nova rotina.

Não encare a tarefa sozinho.

Peça ajuda. Se a pessoa que precisa ser cuidada é seu pai ou sua mãe, todos os irmãos precisam ajudar,independentemente de onde vivem ou de sua situação financeira. Quando os irmãos não dividem a carga, surgem ressentimentos entre eles, e as relações de família podem deteriorar rapidamente. Se não tiver irmãos, paciência! Conte com outros membros da família e amigos mais íntimos.

Lembre-se que seu trabalho tem valor.

Somos uma nação de pessoas que associam seu valor ao que ganham monetariamente, e cuidar de idosos com frequência é um trabalho que não é pago. De acordo com um estudo do Instituto de Políticas Públicas da AARP (Associação Americana de Aposentados), em 2009 os serviços de cuidadores foram avaliados em US$450 bilhões por ano. Quanto representa esse valor? É tanto quando as vendas conjuntas das três maiores montadoras de carros dos EUA (Toyota, Ford e Daimler: US$439 bilhões) e quase tanto quanto o PIB de 2009 da Bélgica, a vigésima maior economia do mundo.

Não abandone seu trabalho principal.

Um problema muito concreto enfrentado por cuidadores é que as empresas para as quais eles trabalham podem não ter ideia do que envolve cuidar de idosos. Você precisa de tempo para levar sua mãe ao médico e esperar enquanto ela faz uma ressonância magnética. Você usa o horário do almoço para buscar os remédios dela da farmácia. Durante o dia você precisa fazer ligações para saber como seu pai está indo, para conversar com o médico dele e discutir com o Medicare. Sem um horário de trabalho flexível, alguns profissionais não têm outra escolha senão abrir mão de seu emprego. E ao deixar de trabalhar antes do previsto, você pode estar colocando sua própria aposentadoria em risco.

Ingresse numa rede de apoio – e procure um mentor.

Embora seja ótimo conseguir sair de casa e encontrar seus amigos, nem sempre é o caso de desabafar com eles. O tempo que você passa com eles deveria ser para você se divertir um pouco e pensar em outra coisa. Não é que você não possa fazer confidências ou consultas para saber outra opinião, mas talvez seja melhor deixar para reclamar de seu irmão que não quer ajudar ou do Medicare, que o está deixando maluco, em um grupo de apoio. Quando você tem uma noite de folga, procure usá-la para se divertir. Não leve o estresse de carona. E afinal, sempre tem o Casa de Mãe Blog, criado para compartilhar dilemas e soluções. Sinta-se à vontade para me contar aqui o que você quiser!

Encontre modos de comunicação coletiva.

É claro que todo o mundo quer saber como foi a cirurgia da mamãe e se ela está se recuperando bem. Mas você não tem tempo para fazer um relatório longo ao telefone com cada um da família. Além disso, repetir a mesma história várias vezes é altamente cansativo. Use um site como CaringBridge para comunicar-se com todos ao mesmo tempo. E leia os comentários e os votos de recuperação rápida quando for o melhor momento para você.

Encontre o lado positivo oculto no que você está fazendo.

A Caring.com diz que 75% dos cuidadores informam sentir orgulho por estarem fazendo uma diferença positiva na qualidade de vida de um ente querido. Curta os momentos que você tem na companhia de seu familiar idoso, procure maneiras para incluí-lo em suas rotinas diárias e em encontros com outras pessoas. Crie o maior número possível de memórias.

*Com Portal Plena,  Portal do Envelhecimento e HuffPost.

É preciso compaixão para conviver com o diferente

É muito fácil se compadecer de quem está longe, mandar dinheiro para uma criança com fome na África ou sofrer por um animal judiado na internet. Agora, será que o nosso próximo não está mais próximo do que a gente pensa? Por que é tão complicado tolerar ideias antagônicas?

Novembro está aí e o que fizemos de 2018? Melhor do que a lista de ano novo, é o balanço do que realmente foi concretizado [sim, eu sofro de ansiedade e o restinho de tempo que sobra até as confraternizações passa voando]. Sempre prometemos ser mais bonzinhos e equilibrados.  Ah, e praticar atividade física. Mas em que, de fato, temos contribuído para o mundo?

Eu tenho pensado bastante nisso porque é muito fácil ter compaixão de quem está longe, mandar dinheiro para uma criança com fome na África, ou mesmo sofrer por um animal judiado na internet. Agora, será que o nosso próximo não está mais próximo do que a gente pensa?

Nossa família, nossos amigos, nossos pais que envelhecem e começam a exigir uma paciência que precisa ser aprendida. Mesmo aqueles estranhos que cruzam nosso caminho.

O quão tolerante somos  para conviver com aqueles que pensam diferente de nós? Compreender o estado emocional de outra pessoa e relevar as ideias que consideramos estapafúrdias é um movimento que requer vontade de se reformar intimamente e tempo.

Só a experiência te dá capacidade de abrir seu melhor sorriso amarelo e fingir que concorda com algo que na verdade discorda completamente. Claro que é muito fácil exercitar a verborragia nas redes sociais, protegido pela tela de um eletroeletrônico. Será que já não é hora de parar de dispender tanta energia à toa?

As eleições deixaram um saldo um tanto quanto negativo diante da polarização nas urnas e deram um bom exemplo do nosso mau comportamento. Mas nem só de política, futebol ou religião se nutrem os desentendimentos.

Então, que tal começar a lista para 2019 com coisas como perdão, simpatia, sinergia, empatia, serenidade e humildade. Que a sua opinião seja dada de forma divertida e gentil, com prudência! É o meu desejo de ano novo.

Afinal, para quem gosta de sair do comodismo, e ter crescimento pessoal, conviver e lidar com pessoas diferentes pode ser um excelente aprendizado. Do meu lado, só posso dizer que esse primeiro ano passado aqui pertinho dos meus pais tem sido um exercício e tanto.

Logo eu que tinha a pretensão de mudar a vida deles para melhor! Não foi bem assim. Quem está mudando a minha são eles. Os nossos diversos embates serviram para mostrar que eles estavam felizes do jeito que estavam. E tive de apoiar, embora não entendesse nada de compaixão até então.

Quando falo em compaixão, não me refiro a sentir pena. É antes de tudo um sentimento que se diferencia porque leva à ação. Então, quando alguém se compadece por um indivíduo está mostrando respeito pela sua dor e tomando alguma atitude para amenizar a angústia que ele sente. É disso que se trata.

E, assim como diversos outros tipos de comportamentos, a compaixão pode ser treinada e desenvolvida. Eu comecei a praticá-la na convivência com os meus idosos. E, sinceramente, acredito que aprender a tolerar as diferenças com classe é um ótimo item para incluir na listinha de ano novo de todos os brasileiros.

Dia do Idoso é alerta para a sociedade aprender a ressignificar a velhice

Quando os problemas ambientais vieram à tona, toda a sociedade teve de passar por uma reeducação que a levou a rever seu comportamento. De lá para cá, o entendimento do ciclo de vida de um produto faz parte do cotidiano das mais diversas gerações, que entenderam a preservação do meio ambiente como algo essencial para o futuro do planeta. O desafio agora é modificar a compreensão sobre o ciclo da vida humana para ressignificar a longevidade, um fenômeno inédito para os brasileiros.

O Dia Internacional do Idoso, comemorado nesta segunda-feira, 1 de Outubro, foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1991 para sensibilizar a sociedade sobre as questões do envelhecimento e da necessidade de proteger e cuidar da população mais idosa. Algo que só se conquista com educação. É a base de tudo. De todo o resto.

Quando os problemas ambientais vieram à tona, toda a sociedade teve de passar por uma reeducação que a levou a rever seu comportamento. De lá para cá, o entendimento do ciclo de vida de um produto faz parte do cotidiano das mais diversas gerações, que entenderam a preservação do meio ambiente como algo essencial para o futuro do planeta. Não é diferente com o envelhecimento. O desafio agora é modificar a compreensão sobre o ciclo da vida humana para ressignificar a longevidade, um fenômeno inédito para os brasileiros.

E, consciente disso, o Portal Plena faz sua parte com o Plena na Escola. Trata-se de um projeto recém-lançado, que debate os reflexos da transição demográfica com os alunos do ensino médio.

De acordo com Ana Cláudia Vargas, o retorno tem sido positivo. “Estudantes interessados, perguntas estimulantes, um cenário que favorece a discussão,  assim têm sido os debates do Plena na Escola, uma iniciativa que se propõe a ser uma conversa franca e aberta sobre a velhice”, conta em seu texto.

Na prática, são conversas  nas quais o economista Wanderley Parizotto fundador do portal, fala aos estudantes sobre o rápido envelhecimento da população brasileira, sobre suas consequências e da importância de se envelhecer de forma autônoma em todos os aspectos. Ou seja, de ressignificar a longevidade.

Segundo Parizotto, a ideia é inserir  o tema do envelhecimento em alguma atividade acadêmica do dia a dia. A discussão demora, em média, uma hora. E todos os assuntos abordados são ilustrados e respaldados em dados do IBGE.

“Procuramos sempre fazer um paralelo com a leitura e o conhecimento matemático, histórico, sociológico, filosófico e assim por diante”, diz. “A intenção é levar este debate para escolas do Brasil inteiro”.

plena nas escolas

Interessados em saber mais sobre o Projeto Plena Na Escola devem entrar em contato com ana.vargas@portalplena.com (11) 99843-9381 ou  wanderley@portalplena.com (11) 994153-7528.

Tempo de (se) cuidar

Depois da Medeiros, descobri outra Marta que não sai do meu lado antes do sono chegar, entre os livros de cabeceira. Essa, de sobrenome Pessoa, é autora de “É Tempo de Cuidar – Eles Envelhecem: E Agora?”.

Buscando um texto que havia escrito para o Instituto da Longevidade sobre como algumas mulheres deram a volta por cima na idade e retornaram para a universidade após os 60, construindo não apenas uma nova carreira, mas uma nova vida, acabei encontrando a entrevista dela ao portal. Leia aqui

Ela conta a experiência com os pais idosos e como deixou de ser filha única para se tornar cuidadora única. Mas a solução encontrada nessa dinâmica foi abrir mão da carreira e gerenciar tudo a distância. Também tenho trocado muita figurinha com minha amiga e sócia Juliana Junqueira, que administra de São Paulo os pais em Guaratinguetá. Mas as idas e vindas da Ju nesse processo são constantes.

Organizar e reorganizar

No meu caso, eu precisei voltar a dividir o mesmo teto e a convivência não tem sido das melhores. Nem um de nós é fácil, claro. Cada um com suas particularidades. Talvez depois de organizar melhor a vida deles eu saia para reorganizar a minha, que virou de ponta cabeça.

Entrei em contato com a Marta pelo Facebook. Ela prontamente me aceitou e já trocamos algumas mensagens! Depois conto tudo aqui.

Do meu lado, o que tem sido mais difícil é estabelecer um diálogo com a minha mãe, que só sabe dizer que eu quero matá-la. Antes porque eu pegava no pé pela alimentação. Então o cardiologista alertou que o peso poderia, de fato, matá-la. Acabou chorarê.

Agora, o enredo da novela é a organização da casa nova. Eu quero me desfazer de toda quinquilharia acumulada em mais de 40 anos e todo dia é uma guerra. É tanta coisa inútil! E quase tudo desnecessário para duas pessoas que sequer tem dado conta de cuidar da própria saúde.

Paciência como aliada

Eu tenho consciência de que é preciso paciência. Muita. Mais talvez do que seja capaz de ter em toda a minha existência terrena. Tem me feito um mal tamanho essa situação. Talvez seja hora de retornar a terapia para melhor entender porque minha mãe é tão dramática e aceitar que ela vai reclamar para sempre e de tudo. Também para estar apta para o que vem pela frente. A tendência é só piorar, eu acho.

Não há um dia em que ela não lembre o quanto sofre desde que nasceu, porque a mãe, minha avó, morreu cedo e ela foi criada por uma madrasta terrível. Há aí certo trauma que carrega e desconta em nós, aqueles que a cercam. É claro que ela sofre e tem dores terríveis e constantes, mas não procura fazer para mudar seus hábitos e se ajudar.

Hora de mudar

De outro lado, entrevistei mulheres como Elice Dias Oliveira, de 66 anos, que voltou à rotina escolar e me mostrou que depende muito da força de vontade própria mudar o comportamento. “Resolvi fazer minha parte para enfrentar a maturidade em vez de ficar reclamando de dor na coluna”, contou.

Professora formada pelo extinto Curso Normal, ela lecionou durante 36 anos e, quando se aposentou, fez uma pós em pedagogia hospitalar, mas descobriu durante o estágio que não era sua praia.

Ponto positivo

Se escolher um curso superior ainda na adolescência é algo difícil, o que dizer de fazer faculdade depois dos 50 anos? Disciplina e força de vontade são requisitos fundamentais e a maturidade pode ser o ponto mais positivo de quem escolhe correr atrás desse e de outros sonhos, segundo Elice.

“Após participar de várias oficinas mais curtas, decidi ir além. Artes e esportes não me interessavam mais e optei pela seleção para gerontologia, que envolve muitas disciplinas de psicologia, um antigo desejo.”

Hoje cursando o primeiro ano no campus da USP Leste, ela avalia que embora gaste quase 6 horas no transporte público, a troca com a “moçada” compensa. “Tempo não me falta.”

Motivo para ação

Para a ex-executiva Patricia Martins de Andrade, 53 anos, a volta à universidade veio inicialmente como uma busca pela troca de carreira. Aos 46 anos e prestes a se aposentar, ela começou a amadurecer a ideia de cursar direito e prestar concurso para o Judiciário.

Formada em administração pela USP, ela decidiu buscar numa universidade privada a oportunidade. “A necessidade de dedicação é imensa e demanda uma disposição e tanto.”

Passaporte para novas conquistas

Hoje formada e com o crivo da Ordem dos Advogados do Brasil, ela revela seus outros planos. “As descobertas no meio do caminho me levaram a ter um novo propósito”, explica Patrícia, que está de partida para Portugal, onde obteve visto destinado para aposentados ou titulares de rendimentos próprios. “Pretendo morar e atuar como mediadora no ramo de conciliação privada.”

Na avaliação dela, fazer faculdade depois dos 50 anos não é para qualquer um. “É preciso ter um motivo para a ação, a tal motivação.” Assim, uma nova graduação ou qualquer outro curso só se justificaria dentro de um contexto maior. “É preciso ter alinhamento ao que você gosta.”

Aluga-se filhos! E netos.

Quem é que nunca viu em apuros por falta de agenda para levar os pais ou o avós para os médicos ou para a formação social?

Com mais de 14% das pessoas vivendo sozinhas, das quais 44,3% com mais de 60 anos de idade – segundo dados  do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -, e a taxa de desemprego nas alturas, cria-se a equação perfeita para impulsionar uma nova atividade: filhos ou netos de aluguel.

Foi diante desse cenário e em busca de renda extra que engenheiro civil Aloísio Melo, 46 anos, virou neto de aluguel. Não foi diferente com o segurança Everaldo Silva, 48 anos, que criou um blog para vender o serviço de filho de aluguel.

Um na Grande Vitória (ES) e outro na Grande São Paulo (SP), respectivamente, usaram a criatividade para se recolocar no mercado e driblar a crise. E, na essência, oferecem o mesmo serviço: acompanhar o contratante em compromissos e atividades. Para ambos, a ideia surgiu a partir do trabalho como motorista do aplicativo Uber. Nas corridas, perceberam a carência de companhia e de auxílio de parte do público com mais de 60 anos de idade.

Paciência como aliada

Aloísio foi além do acompanhamento. Ao ensinar uma senhora a baixar o app de transporte, percebeu que tinha jeito para ensinar esse público a “decifrar” as novas tecnologias. Passou, assim, a oferecer aulas. É preciso, diz ele, trabalhar no “tempo da pessoa”. “A paciência é minha grande aliada”, garante.

Já a proposta de Everaldo é oferecer transporte diferenciado. “A ideia é acompanhar ao médico, ao supermercado, ao banco ou ao shopping para um momento de lazer, tudo dentro de uma relação de amizade e confiança”, conta.

Não é, dizem eles, que a família não tem interesse em estar no dia a dia. Mas a rotina corrida dos filhos e dos netos nem sempre permite uma brecha na agenda. E filhos e netos de aluguel podem acompanhar nas consultas médicas e até ser parceria em viagem.

Custos e referências

E quanto custa o serviço de netos de aluguel? Nenhum dos dois fala em valores. Dizem que tudo é negociável no contato com os clientes. Há quem cobre por hora. E existe quem feche um preço pelo serviço, aos moldes do já popular marido de aluguel, contratado para fazer pequenos reparos domésticos.

Apesar de ser uma opção para quem precisa de companhia em compromissos, o neto de aluguel ainda é visto por alguns com desconfiança. “Aqui em Marília [interior de São Paulo] não pegou apesar da oferta voluntária”, diz Adriana Cavallaris, 48 anos, outra potencial filha de aluguel “por vocação”.

Os contratantes ainda preferem os serviços de um cuidador, que tem formação na área e é uma atividade regulamentada, opina Claudio Hara, diretor do Centro Dia Angels4U e mestre em gerontologia social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. “Também é difícil mensurar um valor mínimo desse tipo de acompanhamento”, diz. “Talvez por isso ainda tenha se popularizado tão pouco.”

Texto originalmente publicado no Portal do Instituto da Longevidade Mongeral Aegon

Velha surda é a mãe!

É difícil a interação de deficientes auditivos com as pessoas. Minha mãe perdeu completamente a audição e só consegue ouvir (e pouco) graças à tecnologia de um aparelho auditivo. O processo, porém, não foi repentino e teve início há mais de duas décadas, desencadeado por um zumbido diagnosticado como labirintite.  Ela demorou a buscar ajuda e até hoje sofre as consequências físicas e a falta de compreensão da própria família.

Há dias em que rimos com as situações dessa deficiência dela. Afinal, quem não se lembra da personagem icônica da televisão brasileira criada pelo humorista Roni Rios. O quadro baseado nas incompreensões e entendimentos equivocados da Velha Surda na interação com seu amigo Apolônio.  Mas confesso que há outros em que eu e meu pai perdemos a paciência.

Ela, porém, não é a única a passar tais dificuldades: existem mais de 15 milhões de pessoas no Brasil na mesma situação, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Segundo o médico Jamal Sobhi Azzam, especialista em Otorrinolaringologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, –membro titular da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (Aborl-CCF) –, embora exista um forte componente hereditário, principalmente nos homens, todos estão sujeitos a perder lentamente a audição, especialmente após os 60 anos de idade.  “As perdas acontecem por uma degeneração natural das células auditivas e constituem parte do envelhecimento natural”, afirma.

Estudos mostram uma prevalência de perdas auditivas em percentuais em torno de 60 % nos indivíduos acima de 60 anos, e superior a 70 % acima dos 65 anos. Mas o problema é mundial e o ruído das cidades vai tornando a população surda progressivamente. Isso porque qualquer barulho acima de 85 decibéis é prejudicial à saúde, segundo a OMS. Um quadro que leva a traumas imperceptíveis até aparecer o popular zumbido.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Otologia (SBO), entre 15% e 20% dos brasileiros têm zumbido, sintoma que indica perda auditiva. Destes, apenas 15% se sentem incomodados com o barulho e procuram ajuda médica. A entidade também aponta que cerca de 30% a 35% das perdas de audição são creditadas à exposição a sons intensos.

Para se prevenir, a saída é evitar sempre ambientes muito ruidosos. É bom também ter cuidados com o uso excessivo de fones de ouvidos em níveis altos e ter atenção aos protetores auditivos no caso de ambiente profissional que exige a medida protetiva.  Azzam destaca ainda que é fundamental que todas as crianças realizem ao menos uma audiometria (que é o teste da audição) a partir dos 4 anos, além de todos os adultos a partir de 60 anos.

“Se diagnosticada cedo e a depender da causa, existem vários tratamentos.  Mesmo que não se consiga curar, pode-se amenizar ou compensar a perda natural”, diz o médico para o qual as  novas tecnologias ajudam muito nesse processo.

Isso porque os aparelhos de amplificação sonora individual estão muito avançados e estão cada vez são menores e mais discretos. “Existem vários canais de financiamento de compra dos aparelhos auditivos pelos bancos públicos, a juros muitíssimo baixos, mesmo para os que não são correntistas”.

O mais importante, destaca o médico, é  jamais criticar ou denegrir quem não escuta bem.  Perda auditiva é um tipo de deficiência física e é preciso entender isso e parar de se irritar com quem não escuta.

Como identificar a sua deficiência auditiva:

  1. Não conseguir mais entender direito o que a outra pessoa diz.
  2. Achar que o outro está falando muito baixo.
  3. Necessidade de aumentar o som da TV ou rádio porque acha que está muito baixo o volume.
  4. Dar respostas erradas porque não entendeu nada do que a outra pessoa disse.
  5. Pedir para repetir com muita frequência o que a outra pessoa acabou de falar várias vezes.
  6. Não conseguir ouvir sons que todo mundo da sua casa consegue ouvir.
  7. Surgimento de zumbido no ouvido.
  8. Ouvir, mas não entender o que as pessoas falam.
  9. Se isolar por que não escuta mais nada do que as pessoas falam.

FONTE: SBO e ABORL-CCF

A Casa da Mãe

Bem-vindos a essa Casa!

Essa história começa juntamente com o verão, no dia 21 de dezembro de 2017. Chovia quando minha casa em São Paulo começou a ser desmontada e levada para a estrada. Eu partia rumo ao interior, de volta para a casa da minha mãe, 25 anos depois de sair de lá, ainda menina.

Como filha única que sou, a vida me levou por uma jornada pelo qual retomar a convivência com meus pais era a única coisa que fazia sentido. Não quero aqui ditar regras sobre como lidar com o problema do envelhecimento da população. A ideia é aprender! Eu venho estudando e tenho produzido conteúdo sobre o assunto há alguns anos e isso deve dar um norte para as minhas ideias.

Mas o que eu gostaria de compartilhar com outros filhos, de verdade, é a dinâmica real do dia a dia, com todo o pedregulho que tenho encontrado. Conflitos farão parte da vida de quem passa ou passará pela mesma situação, visto que teremos uma população com mais de 66 milhões de pessoas idosas em 2050 – o triplo do que existe atualmente. Que tal buscarmos as soluções juntos?