A transição demográfica é global e irreversível. E o processo de envelhecimento de uma população não pode ser visto como fato isolado. Há reflexos na vida social, nas contas públicas, no mercado de trabalho, na saúde e assistência médica e, na composição das famílias. Por isso, o mais recente relatório World Population Prospects, da ONU – Organização das Nações Unidas demanda uma reflexão que vai além da numeralha toda.
O documento, lançado a cada dois anos, faz um retrato da população de 235 países. Estima-se um contingente atual de 7,7 bilhões de pessoas, que deve chegar a 9,7 bilhões em 2050, saltando a quase 11 bilhões em 2100.
Mostra ainda que em 13 anos, o mundo terá 1,4 bilhão de idosos.
Um número que deve passar de 2 bilhões em 2050, quando todas as regiões do mundo, exceto a África, terão um quarto ou mais de sua população com mais de 60.
É uma parcela que cresce em média 3% ao ano devido às baixas taxas de fertilidade e a uma expectativa de vida maior: hoje a média mundial é de 72,6 anos, mas deve aumentar para 77,1 anos em 2050.
A taxa potencial de suporte, que compara os números de pessoas em idades ativas com os de pessoas acima dos 65 anos de idade, está em queda. No Japão, essa taxa é de 1,8, a menor do mundo. Outros 29 países — a maioria na Europa e no Caribe — já têm taxas potenciais de suporte abaixo de 3. Até 2050, estima-se que 48 países — a maioria na Europa, América do Norte e Leste e Sudeste da Ásia — terão taxas abaixo de 2.
Já existem mais velhos que crianças.
Chama atenção ainda o fato de que em 2018, pela primeira vez na história, pessoas com 65 anos ou mais em todo o mundo superaram em número as crianças menores de cinco anos. Projeções indicam que em 2050 haverá mais do que o dobro de pessoas com mais de 65 anos do que crianças menores de cinco anos. Até 2050, o número de pessoas com 65 anos ou mais globalmente também ultrapassará o número de adolescentes e jovens de 15 a 24 anos.
As regiões em que a parcela da população com 65 anos ou mais deve dobrar entre 2019 e 2050, de acordo com o documento, incluem o Norte da África e o Oeste da Ásia, o Centro e o Sul da Ásia, o Leste e o Sudeste da Ásia e a América Latina e Caribe. Na Europa e na América do Norte, até 2050, uma em cada quatro pessoas poderá ter 65 anos ou mais.
Globalmente também a população com mais de 80 deve triplicar em 2050 de 137 milhões em 2017 para 425 milhões e 2050. Em 2100 estima-se que esse grupo alcance mais de 900 milhões.
Cenário demográfico ajuda a tomar decisões.
Essas e outras estatísticas trazidas pelo relatório – que pode ser acessado na íntegra, em inglês – deixam claro como é urgente um planejamento baseado nos cenários demográficos. Embora sejam projeções, o documento oferece um quadro que permite a tomada de decisões que transcendem o envelhecimento populacional.
Tal situação exige políticas desafiadoras, que podem (e devem) ser pautadas pelos ODSs – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Trata-se de uma agenda formada por 17 eixos, que devem ser implementados por todos os países do mundo durante os próximos 15 anos, até 2030.
Como incluir os idosos na Agenda 2030?
Um olhar mais atento para a sociedade é o suficiente para perceber que o processo de envelhecimento ocorre num cenário caracterizado por desigualdade, pobreza, esgotamento de um modelo de crescimento econômico insustentável e avanço do desemprego e do emprego de baixa produtividade. Por isso mesmo é tão importante incorporar as pessoas idosas na implementação e no acompanhamento da Agenda 2030.
Nesse caminho, a Cepal – Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe indica alternativas no livro Envelhecimento, pessoas idosas e Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Perspectiva regional e de direitos humanos.
O conteúdo traz diretrizes para garantir o acesso à proteção social que, sob a perspectiva da CEPAL, implica a integração de três pilares básicos: pensões, atenção básica à saúde e cuidados para a autonomia.
“É um convite à reflexão sobre nós mesmos, sobre a vida que queremos e a sociedade que ansiamos (mais solidária, mais interdependente, onde ninguém fique para trás) e sobre o que poderíamos fazer para nela incluir, com toda justiça e em pé de igualdade, as pessoas idosas com total respeito à sua autonomia e dignidade”, conclui Alicia Bárcena, Secretária Executiva da CEPAL, no prólogo da publicação.
Vale a leitura.
Saiba mais em Jovem País de Cabelos Grisalhos.